DUBAI - As homenagens ao Egito faraônico, pistas de gelo e aquários cheios de tubarões em vários centros comerciais de Dubai ainda atraem multidões, mas o comércio do Golfo Arábico está sentindo o golpe da crise mundial: os consumidores de luxo agora procuram por pechinchas e quinquilharias. Mais de 40 centros comerciais na capital do consumo da região vendem de tudo, desde artigos importados baratos da China até produtos com design exclusivo, cujas atrações extravagantes são elaboradas sob medida para seduzir os turistas que sustentam grande parte do negócio. Com a complicada situação econômica mundial que tem desencorajado os consumidores da Grã-Bretanha a Índia a gastar, as vendas do varejo, que geram cerca de um terço do Produto Interno Bruto de Dubai, estão reduzindo significativamente.- Este ano será a prova de fogo para os varejistas da região - disse Neil Tunbridge, diretor de serviços varejistas da consultoria GRMC Advisory Services, com escritório em Dubai.
Embora cifras oficiais do aeroporto internacional do emirado demonstrem que o fluxo de passageiros segue em alta (6% em janeiro, com 3,3 milhões de viajantes) outras estatísticas sugerem que o turismo está em retração. Dados preliminares mais atualizados do Departamento de Turismo de Dubai indicam que a taxa de ocupação dos hotéis caiu 14% no terceiro trimestre de 2008.
A redução do turismo preocupa. Fareed Abdelrahman do Grupo Majid al-Futtaim, proprietário de um dos centros comerciais mais populares e maiores da cidade, disse que mais de um quarto dos visitantes dos centros comerciais eram turistas.
- Temos visto uma ligeira mudança nos últimos três meses. O mercado de turismo não é o mesmo - disse Abdelrahman.
Neil Tunbridge, da consultora GRMC, diz que os varejistas tendem a exagerar nas compras de produtos e ficam em situação difícil quando o número de turistas cai, principalmente na estação mais quente. Com isso, quem estiver por lá pode esperar por ofertas:
- Os varejistas lotaram seus estoques de produtos. Haverá um longo período de descontos de meados de julho até agosto - aposta Tunbridge.
Na inauguração de Marks & Spencer em março, num centro comercial de Dubai inaugurado em novembro, o gerente destacou em seu discurso que "recentemente introduziram reduções permanentes de preços", segundo a imprensa local.
Mohi-din Bin Hendi, presidente do conglomerado varejista Bin Hendi Enterprises, que distribui marcas de luxo como Brione e Calvin Klein, disse que as vendas de fevereiro de produtos luxuosos baixaram cerca de 25% a 30% em comparação com o ano passado.
- Ainda há pessoas que compram, mas elas estão cautelosas na hora de gastar - disse Bin Hendi, cujo negócio depende 60% dos turistas, particularmente da Rússia e de países vizinhos.
O grupo de Bin Hendi, que opera tanto na Índia como na região ao Golfo Arábico, reduziu significativamente seu prognóstico de crescimento para este ano.
- O crescimento estimado para 2009 estava entre 35% e 40%, o que era demasiado. Agora está dentro do normal, entre 5% e 10% - disse.
A transformação de Dubai de rincão desértico em polo comercial atraiu varejistas de todo o mundo, incluindo a empresa espanhola Inditex, proprietária da rede de lojas Zara, a luxuosa loja britânica Harvey Nichols e a marca italiana Fendi. Isto provocou um boom no mercado de bens na cidade, que viu o segmento crescer a níveis exorbitantes. Mas anos depois desta repentina expansão, a cidade vivencia um freio nos planos de ampliar os centros comerciais ou construir outros novos. Nakheel, a imobiliária estatal das ilhas de Dubai, disse em março que estava postergando seus planos de expandir os centros comerciais estimados em US$ 3 bilhões. Com a notícia a megaloja australiana, Myer Ltd, suspendeu seus planos de expansão no emirado.
A complicada situação econômica mundial tem provocado uma reformulação do negócio.
O festival anual de compras do emirado, que começou em 1996, e reuniu turistas de todo o mundo com mês de descontos, teve que reduzir seu orçamento e mudou seu foco voltando-se para os visitantes dos países árabes vizinhos e Índia, para esquivar-se da recessão que afeta a Europa, disseram os organizadores.
Fonte: Reuters
0 Response to 'Crise muda hábitos dos consumidores de luxo em Dubai'
Postar um comentário